Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,
Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do
Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,
principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também
São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno
se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das
músicas, nos instrumentos e na forma da dança.
Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,
apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito
comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série
de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras
aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são
“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas
de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que
não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no
coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.
O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao
movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem
os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a
manutenção de suas famílias e de sua cultura.
O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob
influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado
em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa
Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do
Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,
eles não acreditam.
Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a santa submergir, eles
tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres e tentam levá-la
para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem, então o terno
de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge, mas ao ser
levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Um terno de
Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés, canta para
ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma capela
para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique então
se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria Conceição
Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar capturar escravos
fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo
de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente
a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num
galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los, mas eles
permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e chamam
um padre para ir até o local verificar o fato.
E como na primeira versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa
Senhora do Rosário acompanha apenas o Moçambique que canta, vestido de
branco e lhe construiu uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.
O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os
responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a
procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao
Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no
encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz
o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a
realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade
para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,
na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda
do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.. As músicas, as roupas e
adereços e o trançar de fitas característico do terno de Marinheiros e Marujos, fazem
referência ao mar que traz os negros para o Brasil e de onde Nossa Senhora é
retirada, e às atividades do Marinheiro.Os ternos de Congo são de louvação, os
tocadores de maracanãs e caixas fazem performances saltando com os
instrumentos, mas esta performance, atualmente, também é reproduzida por outras
guardas.Segundo os integrantes do Marinheiro de São Benedito a performance
dos saltadores ou caixeiros de frente, em que os dançadores pulam com as caixas
revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia de significação.
Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando, estão
agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial para existência.
Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vem se
extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradas
confeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como o
uso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,
banjos e sanfonas.
A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militares
ou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas em
outros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,
Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinha
da Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto em
número como em funções e significações. “Antigamente” a função de Primeiro
Capitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,
o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,
vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundo
capitão, madrinha.
O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem com
todo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente é
responsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscais
protegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha do
terno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas também
transita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha da
bandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,
no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmente
as mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.
Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, na
organização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente também
impunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro e
Secretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelos
próprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.Os Soldados são os tocadores e
dançadores.
As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendo
coreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas.
“Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas
mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da
bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria
a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa
se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar.
Desmaios e doenças dificultariam a execução da função. Caberia a menina se
afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hoje
no entanto esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dos
acessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.
As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,
cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podem
ser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: uma
para o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos de
suas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algum
período. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupas
consideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a das
bandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementos
identificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quando
ocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,
por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.
Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –
se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.
Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.
Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisões
da Irmandade.
A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e as subvenções
governamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de realização da festa,
faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários de realização de
missas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na verdade um
reinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse um “reino”
ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um tipo de
guarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o seu
“diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões com
a Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.
Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputa
torna-se muito clara em muitos momentos.
Disputam a ocupação do espaço na praça da igreja, qual a execução mais perfeita
das músicas, qual o maior número de componentes, qual a melhor organização e
disposição dos soldados na apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária,
ocorre disputa na demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc.
Em alguns momentos verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos se
enfrentam com os instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixam
clara a luta enquanto os soldados rufam seus tambores.
Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionados
ou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,
leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial
(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.
A campanha é o período que precede a festa.
Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável por
agendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilões
arrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,
roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinamse
os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e do
apito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dos
bairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidade
enchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem na
porta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia da
festa.
Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos que
oferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realização
da novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitães
ou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive as
fronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontros
formando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitar
suas cidades de origem.
Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos três
ações diferentes:
1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;
2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,
poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um terno
impede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.
3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantarem
um para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haver
neste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente para
saber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.
O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia da
festa. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitães
ensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum a
criação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição pode
ser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas a
mentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não ser
executadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cada
ocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,
para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,
em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falam
de fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis e
Rainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja ele
amigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno para
terno.
Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeira
considera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde se
originaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedro
de Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno de
moçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelos
moradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,
construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariam
para o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,
levando consigo as celebrações do Congado.
A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão da
Farinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reunia
os negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto à
Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los da
escravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativa
e temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império. Vale lembrar que em
1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do Ventre Livre” e em 1885
a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais participaram de um
processo que culminou na própria abolição da escravatura, em 1888.
O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida
no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada
de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados
pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas
sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se
aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua
farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia
para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se
refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias
após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar
constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de
sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre
passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso
e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a
Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou
indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos
habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos
encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo
Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha
Podre.
O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos
como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles
como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,
localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio
histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam
os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do
Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,
comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os
documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”
informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos
mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta
Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado. E para a destruição do Quilombo
do Campo Grande foram enviados quatrocentos e depois mais trezentos homens
da cidade de Mariana, São João de El Rey, São José, Sabará e Vila Nova da
Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas solicitando que todas as
comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de boca”
Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na destruição
destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam recomeçando
um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A área onde hoje
se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir de 1821,
possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande. Mas a
construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios arqueológicos
destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas próximas aos rios
para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de acordo com os
elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes possibilitasse a
permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às tropas de
comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A região ainda
preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado e Quilombo).
A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,
sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois
possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam
vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial
da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição
de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O
marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a
João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque
para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.
Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre
o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves
Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,
consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de
1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.
602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. A criação da paróquia, em 1857,
ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras
doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da
Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252). As primeiras edificações do arraial se São
Pedro do Uberabinha se concentravam ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos
aforados do patrimônio de Nossa Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados,
ainda, doze alqueires de terra à margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo
aos limites do arraial, destinados ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia
(Lourenço, 1986:16)
Em 31 de agosto de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome
de São Pedro do Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24
de maio de 1892, a vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895,
a Estrada de Ferro Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o
desenvolvimento da produção agropecuária e de indústrias, com destaque para a
produção de charque (Brasileiro, 2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século
XX foram instaladas em Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se
registro das seguintes indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e
algodão, serrarias, carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos
de produção de couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e
arreios” (Lourenço, 1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica
teve início em 1909, aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.
Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década
de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração
de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou
ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em
1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira
Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa
Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida
em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal
. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,
e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local
estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I
B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).
Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,
tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de
biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.
Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário
tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi
concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.
Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a
construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe
e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro
General Osório (atual bairro fundinho).”
Já em meados de 1890, o então presidente da Irmandade do Rosário passou a
comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas estimulou a participação da
comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem, 2001).
Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi
composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher
uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida
e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de
autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do
Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e
entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com
apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário
passou por processo de restauração no de 2006.
15. Referências: * Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 – Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84, Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/ 98) *Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2001. * Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg *Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP, 1999. *Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura. *Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995. *Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.